PRIMÓRDIOS

Em meados da década de 1960, Nivaldo Santiago, então diretor da Escola de Música de Manaus, veio a Belém com seu coral para uma apresentação, ocasião na qual as professoras Donina Benaccon e Guilhermina Nasser, do Instituto Estadual Carlos Gomes, estabeleceram contato. Naquele momento, o coral Ettore Bósio, um organismo independente e sem subsídios, estava sem regente. As professoras dirigiram-se ao reitor da Universidade Federal do Pará, na época José Silveira Neto, e solicitaram a contratação do Nivaldo. Era outubro de 1963.

Em entrevista, Nivaldo afirmou que seu trabalho teve início naquele mesmo ano porque havia uma predisposição da Universidade em desenvolver atividades musicais, tanto nos planos do ensino quanto da extensão. No entanto, o maestro permaneceu na direção do coral Ettore Bosio por apenas alguns meses. Mesmo com pouco tempo de ensaio, ainda chegaram a realizar concerto em dezembro de 1963, como consta em um programa de recital. 

No referido programa, há um texto em que a Universidade apresenta-se iniciando sua inserção no âmbito da educação musical no Pará. Por isso, para alguns, 1963 é considerado como marco inicial do que hoje é a EMUFPA. Outra data que pode ser vista como a que dá início à EMUFPA é março de 1964, quando Nivaldo fundou a Orquestra e o Coral da UFPA, dando início ao que seria o suporte estrutural embrionário da Escola.

O Coral da Universidade passou a ser constituído de pessoas que não estavam diretamente ligadas à prática do repertório erudito, mas que, a partir de então, vieram a desenvolver um programa bem representativo desse repertório. A organização da orquestra não foi, por assim dizer, algo surgido repentinamente, e sim uma reestruturação, sob outros moldes, de uma atividade que já havia sido iniciada no passado. A participação dos dois grupos em eventos está largamente documentada em artigos e notas nos principais jornais da capital paraense tanto quanto de outras localidades. 

CENTRO DE ATIVIDADES MUSICAIS - CAM

Com o objetivo de promover a formação de músicos que viessem a participar da orquestra, Nivaldo sugeriu a criação de um Centro de Atividades Musicais, o CAM. Depois de verificar a proeminência do ensino de piano na cidade de Belém, Nivaldo pretendia incentivar os jovens a estudar instrumentos de orquestra, vislumbrando a formação de novos instrumentistas para manter os conjuntos existentes e os que viessem a ser criados. Os cursos livres de música foram criados em 1964, juntamente com os grupos artísticos, e eram ministrados pelos próprios membros da orquestra. Funcionavam a partir do interesse que alguém manifestasse em aprender determinado instrumento, sendo um músico da orquestra designado para ensinar a tocá-lo. Havia uma certa flexibilidade no programa a cumprir: o aluno deveria aprontar um determinado programa em um prazo estabelecido; cumprindo este, avançava de nível. Também esse prazo era flexível, pois adaptava-se às possibilidades do aluno. 

No final da década de 1960, precisamente no ano de 1968, a Lei lei 5540/68 estabeleceu uma reforma universitária que fixou normas de organização e funcionamento do ensino superior. Com as novas disposições legais, o Centro de Atividades Musicais viu-se na obrigação de atrelar-se a um núcleo de ensino de nível médio, então o Núcleo Pedagógico Integrado da UFPA (NPI). Reformulado, o CAM foi oficialmente inaugurado em 1970, na gestão do reitor Aloísio Chaves. 

Nivaldo Santiago permaneceu na diretoria do CAM até 1972 , quando assumiu o cenógrafo Marbo Gianaccini. Marbo herdou de Nivaldo uma proposta de ensino musical de vanguarda. Buscou, então, implementar uma estrutura sólida que proporcionasse à escola uma diretriz pedagógica. Com esse intuito, montou um fluxograma que deveria comportar diversos aspectos já previstos anteriormente: ensino, extensão e pesquisa. Naquele mesmo ano foram criados os cursos de musicalização. 

O fluxograma elaborado por Marbo Gianaccini contém aspectos que podem ser interpretados como uma expressão concreta da pressão de outra lei, a LDB 5692/71. Com a introdução de disciplinas e atividades muito mais comprometidas com o ensino e a formação de um músico de nível técnico, o ensino planejado sob a direção de Marbo tinha a profissionalização como fim e consequência natural.  

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Crianças em aula de musicalização com a professora Helena Maia. 

SERVIÇO DE ATIVIDADES MUSICAIS - SAM

Em 1973, o pianista, compositor e professor paraense Altino Pimenta regressa a Belém, após 30 anos radicado no Rio de Janeiro e Minas Gerais e tendo fundado o Conservatório do Amapá, atual Centro de Educação Profissional de Música Walkíria Lima. O seu retorno se deu para que assumisse a direção do agora Serviço de Atividades Musicais da UFPA (SAM), a convite do reitor Aloísio Chaves. Altino Pimenta foi responsável pela concretização dos ideias de Nivaldo Santiago, que haviam sido incrementados por Marbo Gianaccini. 

 A partir de então, o SAM passou a ter, oficialmente, os cursos de musicalização, de teoria aplicada, de instrumentos e o curso experimental de dança, circunscrevendo a grande área do ensino. No plano da extensão, o SAM contava com a Orquestra Profissional, o Madrigal da UFPA, o Grupo Coreográfico da UFPA e a mini-orquestra, posteriormente chamada de Orquestra Juvenil. 

Ao final do primeiro ano após a implementação do novo fluxograma, a produção do SAM já havia adquirido visibilidade (Folha do Norte, 1973). Neste mesmo ano de 1973, foram realizadas 78 apresentações - somente o Madrigal da UFPA apresentou-se 43 vezes. Somando-se a estas, as exibições de Orquestra, Conjunto Musical, Conjunto de Sopros, Quarteto, Flauta Doce e Dança.

Idealizado por Altino Pimenta, o Encontro de Artes de Belém (ENARTE) surgiu como uma grande mostra anual da intensa produção artística dos diversos grupos da UFPA. Inicialmente e por diversos anos, as edições do evento aconteciam no mês de outubro, durante as festividades do Círio de Nazaré. O Encontro vem acontecendo a cada ano desde então, aproximando-se já de sua 50a edição; porém, não acontece mais em outubro, mas em dezembro. 

A CAMINHO DA PROFISSIONALIZAÇÃO

Uma das características que atravessaram a história da EMUFPA, como um leitmotiv, foi a luta pela formação de profissionais. Se durante a fase inicial da instituição, na década de 60, esse leitmotiv erguia-se enquanto necessidade imperiosa de suprimento de lacunas nas formações artísticas, nas décadas de 70 e 80, como ações mais práticas, essa luta tomou feições novas, com direito a reivindicações de cunho legal arregimentando grande parte do corpo docente da instituição. Esse esforço trouxe um resultado significativo: a portaria 110, de 10 de dezembro de 1980, que apresentava o curso de música como uma das habilitações de 2˚ grau do NPI, que a partir de então, passou a expedir o certificado de conclusão, embora o curso continuasse a ser desenvolvido, na prática, pelo SAM. 

A primeira aluna a receber diploma de nível técnico em música na instituição foi Maria das Graças Oliveira, em 1980, tendo concluído o curso com um recital - prova cujo programa legitima solenemente a nova condição do curso de música da SAM.

NOVOS TEMPOS, NOVOS PROJETOS

Na década de 1980 houve um incremento em algumas áreas no cenário musical de Belém: o movimento coral, a pratica de orquestra, o estudo e valorização da música paraense no tangente às suas raízes populares. Tais ações provocaram uma grande dinamização dos grupos artísticos da instituição. Descaca-se então a produção orquestral, que representa a própria tradição do SAM, sendo um dos alicerces de sua fundação.

Por meio do Projeto Orquestra, do Instituto Nacional de Música, e por ocasião dos X e XI Encontros de Artes, a prática de orquestra foi incentivada, com a vinda do maestro Aylton Escobar para, além de reger, ministrar cursos específicos de prática de orquestra. Em 1983, o SAM recebeu doação de instrumentos de cordas pelo governo alemão, fator que também contribuiu para o crescimento da área. 

Paralelamente a essas ações mais específicas da FUNARTE frente às orquestras jovens do país, com reflexos no Pará, outro movimento relacionado à prática de orquestra estava acontecendo na capital paraense: o Projeto Espiral. Abrigado pelo Instituto Estadual Carlos Gomes e implementado pela Secretaria de Estado, Cultura, Desportos e Turismo, na gestão do então secretário Olavo Lira Maia, o Projeto Espiral constituía uma proposta de formação de instrumentistas de cordas. Os frutos desse projeto estenderam-se ao longo do tempo e até hoje continuam florescendo. Naquele momento específico, alunos provenientes do Projeto Espiral e do SAM constituíram a Orquestra de Câmara de Belém, regida pelo professor Samuel Barros.

ESCOLA DE MÚSICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Foi no início da década de 1990 que o SAM mudou-se novamente: saiu do prédio da Praça da República, situado à Av. Presidente Vargas (hoje Instituto de Ciências das Artes - ICA) para a Av. José Bonifácio, onde permaneceu por mais de uma década. Nesse início de década, o SAM deu continuidade às suas atividades, buscando cada vez mais a integração entre ensino e extensão. Ainda no início da década, foi criado o Núcleo de Artes da UFPA, que passou a reunir administrativamente as duas unidades acadêmicas da área da Arte - o Serviço de Teatro e o Serviço de Atividades Musicais - sob as respectivas denominações Escola de Teatro e Dança e Escola de Música. O regimento interno do NUAR, datado de 1991, dispõe a respeito da abrangência de sua gestão sobre as unidades envolvidas com as artes e sua responsabilidade sobre o ensino, pesquisa e extensão nelas desenvolvidos. Assim, a EMUFPA ao mesmo tempo via-se vinculada ao NPI (a portaria do MEC inseria o curso profissionalizante nessa unidade) e ao NUAR. 

A mudança de nome trouxe também mais status para a instituição, que deixou de ser “serviço” e passou a ser uma “escola”. Com a criação do Núcleo de Artes, a estrutura gestora da EMUFPA foi modificada, ficando abrigada sob a dimensão administrativa do recém-criado Núcleo de Artes. Os anos 2000 são marcados por vitórias, como a inclusão do curso técnico da EMUFPA na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, bem como seu efetivo reconhecimento como Escola de Educação Profissional vinculada à UFPA. Consequentemente, houve também a inclusão da escola no Conselho de Diretores das Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades Federais (CONDETUF), bem como a previsão de verba própria para o exercício de 2003 e próximos anos. 

Foi no ano de 2001 que a EMUFPA passou a ter novo endereço, à Av. Conselheiro Furtado, no bairro Cremação.

O Instituto de Ciências da Arte (ICA) foi criado em fevereiro de 2006, a partir da reunião de cursos e atividades artísticas do Núcleo de Arte e do Departamento de Arte do antigo Centro de Letras e Artes. As Escolas de Música e de Teatro e Dança permaneceram atreladas administrativamente ao ICA, no âmbito da UFPA. Em 2015 a Escola de Música iniciou um processo de desligamento do ICA, o que lhe garantiria maior autonomia administrativa. O processo foi deliberado pela Congregação do ICA em dezembro de 2016. 

Atualmente, na estrutura administrativa da UFPA, a EMUFPA tem status de Unidade Acadêmica Especial.

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Antigo prédio da Escola de Música, na Av. José Bonifácio. 

A EMUFPA HOJE 

Após um período de reformas, em que a Escola funcionou em prédio provisório, em 2014 a EMUFPA retornou a seu antigo endereço, passando a funcionar num prédio amplo e moderno, de 3 andares, construído a partir das suas necessidades. 

No ano de 2021 empreendeu-se uma nova e ampla modificação na estrutura predial, com a construção de um prédio destinado a atividades administrativas e reforma do prédio acadêmico. Com previsão de entrega em 2022, a nova estrutura prevê, além de um espaço mais amplo, garantir acessibilidade.

Em termos administrativos, a EMUFPA tem vivenciado um período de reestruturação do seu funcionamento interno. Em tempos recentes, foram estabelecidos os seguintes setores: Secretaria Executiva; Coordenadoria de Planejamento Gestão e Avaliação - CPGA; Coordenação de Produção e Comunicação; Coordenação de Ensino; Assessoria de T. I. (Tecnologia da Informação); Colegiados dos Cursos Técnicos; Câmara de Pesquisa e Extensão. Vale ressaltar também a implantação de políticas de auxílio estudantil, a ampliação do quadro docente através de concursos públicos e a reestruturação do Conselho Escolar, que passou a funcionar de maneira representativa. 

Quanto a questões acadêmicas, é importante mencionar que a EMUFPA tem possibilitado a oferta de novos cursos técnicos (Instrumento Musical, habilitação em Música Popular; Composição e Arranjo; Canto, habilitação em Canto Coral), com perspectiva de ofertar outros (Regência, Construção e Manutenção de Instrumentos). Destaca-se também a oferta de cursos de Especialização Técnica de Nível Médio. a inclusão dos alunos do curso técnico no sistema de gerenciamento acadêmico da UFPA (SIGAA), e o fortalecimento das ações de pesquisa e extensão, através de grupos e projetos.

No ano de 2022, contabilizam-se matriculados 350 alunos, entre os Cursos Livres, Técnicos de Nível Médio e Especialização Técnica de Nível Médio.

O quadro docente conta com 48 professores, a maioria composta por especialistas, mestres e doutores. 

A EMUFPA conta com diversos grupos artísticos, de diferentes formações e com diferentes repertórios, os quais reverberam a produção artística da Escola através de inúmeras apresentações que realizam no decorrer de cada ano. Dentre os grupos, destacam-se: Orquestra Sinfônica Altino Pimenta (OSAP); Orquestra de Violoncelistas da Amazônia (OVA); Orquestra Infantil de Violinistas Lícia Arantes (OIVLA); Orquestra Infanto-Juvenil Helena Maia; Banda Sinfônica da EMUFPA, UFPA Cello Ensemble, Quarteto de Cordas da EMUFPA, Quinteto de Sopros, EuParaTu, Duo Azulay e EMUFPA Jazz Trio.

Ao longo de décadas, a Escola de Música da Universidade Federal do Pará tem reafirmado a sua posição de referência na formação de músicos profissionais no estado do Pará, a cada ano aperfeiçoando políticas que levam à democratização do ensino musical gratuito e de qualidade na região.  

Prédio

Detalhe da fachada do prédio atual da Escola de Música, na Av. Conselheiro Furtado.

REFERÊNCIAS

  • ALMEIDA, Isac. Entrevista com o Prof. Carlos Pires em 30 de janeiro de 2017. Belém. Escola de Música da UFPA.
  • BARROS, Liliam; GOMES, Luciane. Memória e História: 40 anos da Escola de Música da UFPA. Belém: EDUFPA, 2004. 124 p.
  • FOLHA DO NORTE. 1973. SAM mostra trabalho no ano de 73. Belém: 30 de dezembro de 1973.

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